sexta-feira, 27 de abril de 2018

Sobre o desprezo...

Talvez uma das sensações mais doloridas para o ser humano seja o desprezo. Sentir que alguém, de maneira voluntária deseja mostrar a você o quanto você é insignificante é algo que é muito doloroso e praticamente todos já passaram por isso em algum momento de suas vidas.



Existe uma diferença entre ser rejeitado e ser desprezado. A rejeição não envolve juízo de valores, já o desprezo sim. É como se na rejeição a pessoa dissesse: “não te quero”, enquanto no desprezo ela diz: “você não é bom, você é desprezível”. O segundo não envolve apenas uma recusa como também torna aquilo que é recusado alvo de ser, também, inferior. Desta maneira o desprezo não cria apenas um limite – como na rejeição – cria, mas precisamente, uma exclusão e por esta razão é tão doloroso: não basta apenas saber que não me querem, mas que não me querem porque não sou bom o suficiente, porque, na verdade, sou “execrável”.

Porém  o desprezo tem sempre dois lados: quem despreza e quem é desprezado. Assim fica a pergunta: como quem é desprezado reage ao desprezo? No caso acima coloquei algo muito comum: a pessoa que “precisa” ser amada pelos outros. Este tipo de estrutura sempre sofre muito com o desprezo e o pior: em geral se apega à pessoas, situações, empregos que o desprezam. Porque? Porque estes “não a amam” e ela “precisa” fazer com que a amem. Parece complicado? E é! Além de ser complicado gera um monte de dor desnecessária.

Em geral quando sofremos por causa do desprezo é porque estamos presos na armadilha de precisar da valorização do outro, desta maneira quando somos desprezados sentimos que nosso maior medo está se tornando realidade e, portanto, devemos fazer todo o possível para evitar isso e é com esta decisão que acabamos presos numa armadilha dolorosa.

O trabalho para livrar-se dessa armadilha é questionar a necessidade do amor do outro – claro que é bom, mas até que ponto ele vale à pena? Ser desprezado é algo que parte de quem faz o julgamento, portanto, não é um problema de quem é desprezado: a pessoa que despreza é quem julga a outra, porém isso é, nada mais, nada a menos do que uma opinião dela. Compreender isso nos ajuda a colocar o desprezo sob perspectiva. Em geral as pessoas que lidam bem com o desprezo assumem simplesmente que aquela relação “não é para elas” ou, que com os critérios utilizados elas não tem o que fazer naquela relação. Elas não assumem que são desprezáveis apenas porque o outro as desprezou. Assumem a exclusão, porém não assumem o “papel” de desprezado. Com isso se entristecem por perderem algo que querem – a relação – porém não se deprimem por acharem-se desprezíveis.

Esta é a grande sacada: quando a pessoa se coloca no papel de desprezada é que o desprezo assume o seu valor mais destrutivo. É quando a exclusão criada arbitrariamente finalmente encontra seu lugar dentro de quem foi desprezado. Em geral a baixa auto estima é o que permite que a pessoa se identifique com este papel que lhe “oferecem”.

(https://akimneto.wordpress.com)

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