segunda-feira, 6 de julho de 2009

O complexo de Édipo por Lacan

Para compreender o complexo de Édipo devemos então considerar três tempos:
1º tempo: o que a criança busca, como desejo de desejo, é poder satisfazer o desejo da mãe, o objeto de desejo da mãe. (Ver Sem. V p. 198)Ela introduz sua demanda em , e o fruto aparecerá em '. Nesse caminho, colocam-se 2 pontos, o ego, e em frente a ele, seu outro, aquilo com que a criança se identifica, que ela vai procurar ser, ou seja, o objeto satisfatório para a mãe. Quando começa a se excitar, ela vai mostrá-lo à mãe.
No primeiro tempo o sujeito se identifica especularmente com aquilo que é objeto do desejo de sua mãe. É a etapa fálica primitiva. Conforme a maneira mais ou menos satisfatória de a mensagem se realizar em M, podemos ter um certo número de perturbações, entre as quais as identificações perversas.

2º tempo: no plano imaginário, o pai intervém como privador da mãe. Aquilo que desvincula o sujeito de sua identificação, liga-o, ao mesmo tempo, ao primeiro aparecimento da lei. O caráter decisivo do Édipo deve ser isolado como relação, não com o pai, mas com a palavra do pai. O pai onipotente é aquele que priva a mãe, no segundo tempo.

3º tempo: o pai pode dar a mãe o que ela deseja, porque o possui. Aqui intervém a potência no sentido genital da palavra. A identificação que pode ser feita com a instância paterna realiza-se portanto nesses três tempos.
1º : a instância paterna se introduz de uma forma velada.
2º : o pai se afirma em sua presença privadora de um modo mediado pela mãe, que é quem o instaura como aquele que lhe faz a lei.
3º : o pai se revela como aquele que tem. É a saída do Édipo, onde se faz a identificação com o pai, no ideal do eu, que se inscreve no triângulo simbólico no polo em que está o filho. No polo materno começa a constituir-se o que será realidade, e no nível do pai o que será o supereu. (Ver Sem. V p. 201)
No terceiro tempo portanto, o pai intervém como real e potente. Esse tempo sucede à privação ou castração que incide sobre a mãe. É por intervir como aquele que tem o falo que o pai é internalizado no sujeito como Ideal do eu, e a partir daí o complexo de Édipo declina. A criança detém consigo todas as condições das quais pode se servir no futuro. A metáfora paterna leva à instituição de alguma coisa que é da ordem do significante, que fica guardada de reserva e cuja significação se desenvolverá mais tarde.Na mulher, a terceira etapa é diferente. Ela não tem que fazer esta identificação viril. A mulher sabe onde ele está, onde deve ir buscá-lo, do lado do pai, e vai em direção àquele que tem. Lacan considera, nesse sentido, que na feminilidade verdadeira há algo meio extraviado. Com entender isso? Seria por isso que ele toma Medéia como o exemplo da verdadeira mulher, aquela que sacrifica tudo por causa do seu homem? Ela deve então ser distinguida da mãe, ao contrário do que propunha Freud, ao identificar a feminilidade com a maternidade nas saídas do complexo de Édipo. (...)
(...)Lacan introduz então a homossexualidade masculina com a seguinte afirmação: "Não se curam os homossexuais, a despeito de serem absolutamente curáveis".O que ele quereria dizer? Penso que um sentido pode ser: eles são perfeitamente analisáveis.A homossexualidade masculina, diz, é uma inversão quanto ao objeto que se estrutura no nível de um Édipo pleno e acabado. Mas, mesmo realizando a terceira etapa, o homossexual a modifica sensivelmente. Suas relações com o objeto feminino, muito longe de serem abolidas, são, ao contrário, profundamente estruturadas.Há um certo número de traços no homossexual, a começar por uma relação profunda e perpétua com a mãe. A mãe tem geralmente no casal parental uma função diretiva, havendo cuidado mais do filho que do pai.Se o homossexual atribui um valor preponderante ao objeto, absolutamente exigível no parceiro sexual, é na medida em que, de alguma forma, a mãe dita a lei ao pai. Isso quer dizer que, no momento em que a intervenção proibidora do pai deveria ter introduzido o sujeito na fase de dissolução de sua relação com o objeto de desejo da mãe, cortando pela raiz a possibilidade de ele se identificar com o falo (no segundo tempo do Édipo), o sujeito encontra na estrutura da mãe um reforço no sentido contrário. No momento em que a màe deveria ser apreendida como privada do falo, a criança se depara, ao contrário, com a mãe que não se deixa privar nem despojar. Estaria aí a recusa da castração materna.Quando a marca do pai proibidor é quebrada, p. ex., nos casos em que o pai ama excessivamente a mãe, ou é demasiadamente dependente dela, o resultado pode ser o mesmo, embora não obrigatoriamente. Em outros casos, em que o pai permanece distante, por trás da relação tensa com a mãe, temos a presença do pai como rival, no sentido do Édipo normal. Na situação crítica em que o pai é uma ameaça para ele, o filho encontra solução na identificação representada pela homologia dos dois triângulos (p. 217) (Ver Sem. V p. 217)O sujeito considerou que a maneira de aguentar o tranco era identificar-se com a mãe: assim, é na posição da mãe que ele se encontra.Ao lidar com um parceiro substituto do objeto paterno, trata-se, para ele, como frequentemente aparece nas fantasias e sonhos dos homossexuais, de desarmá-lo, de humilhá-lo. Por outro lado, a exigência de encontrar no parceiro o órgão peniano, corresponde à posição primitiva ocupada pela mãe, que dita a lei ao pai. O homossexual desafia seu parceiro para saber se o pai tem ou não tem. Na medida em que o pai se mostra verdadeiramente apaixonado pela mãe, ele fica sob a suspeita de não ter. (...)
(...)A homossexualidade masculina é então um disfuncionamento do segundo tempo do Édipo, que é essencialmente a inversão da metáfora paterna: é a màe que dita a lei ao pai. O pai como privador da màe fracassa. O que tem como resultado: "é mamãe que o tem"2 (recusa da castração).

((Fonte: http://www.pailegal.net/fatiss.asp?rvTextoId=230504286))

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