quinta-feira, 9 de julho de 2009

Nos limites da imundice

*O Trambolhão abriu os olhos, com as mãos sujas tirou as melecas que o impediam de enxergar...Jogou o despertador embaixo da cama, como fazia todos os dias. Espreguiçou-se esticando os braços e abrindo a boca, exalando seu perfume matinal, causando a morte de todos parasitas que lhe fizeram companhia...Tirou o lençol sujo que o cobria, sentou na cama, calçou seus chinelos gastos que nunca viram água em seus pés de pedreiro, todos rachados, cheios de bichos de porco, olhos de peixe, joanetes ,calos, com as unhas carregadas de terra e algumas encravadas...Levantou-se, caminhou lentamente até o guarda-roupa, o lar de sua criação de traças, baratas e camundongos; pegou as mesmas roupas de sempre: camiseta e bermuda azul-marinho que já estavam duras de tanta sujeira... *Tenho que me vestir logo, daqui a pouco minha amada chega* disse ele brincando com as bolas. Depois de vestido, fechou seu cativeiro e continuou a lenta caminhada ao banheiro, enquanto estalava os dedos e ria sozinho...Tropeçou em uma raiz, só não caindo por ter se segurado na porta, de cima dessa porta um punhado de cupins caiu em sua cabeça , perdendo-se em seus poucos fios de cabelo, alguns escorregaram para a barba de mendigo, cheia de pedaços de pão, de frango e de tudo o que ele comeu nos últimos meses...Com o pé direito descalço entrou naquele depósito de lixo orgânico. A privada lotada de merda até a boca, cercada por inúmeros pedaços de papel higiênico usados, o cesto de lixo era a casa de uma família de ratazanas...Aproximou-se do lavatório amarelo de tanta sujeira, cheio de terra e excremento de pombas, abriu o armarinho encontrando seu aparelho de barbear com as lâminas enferrujadas ao lado de imunda escova de dentes , que há muito tempo não era usada. Abriu a boca , esfregou a escova em seus tocos de dentes pretos, precisava preservar aquele sorriso maravilhoso com dentes intercalados, que ela tanto amava...Abriu a torneira de onde saiu uma água suja e fedorenta, vinda diretamente do esgoto, lavou a escova, fez um gargarejo e engoliu...Enxugou a boca no pano de chão que estava aquecendo os urubus que habitavam a pequena janela, próxima a um cano cheio de teias de aranha, que deveria Ter um chuveiro na ponta, ao invés daqueles pés de feijão. De onde deveria sair água e não aquele monte de barro...Como sempre, abaixou a bermuda , fez xixi no montinho de terra, soltou um sonoro e fedorento peido, cumprimentou os urubus, deu aquela coçadinha no rego e saiu gargalhando após ver sua imagem nos pedaços de espelho quebrados...*Eu sou terrível, sou perigoso, é bom parar desse jeito de me provocar* cantava o véião com aquela voz de bêbado rouco, enquanto balançava freneticamente o corpo, parecendo uma galinha choca...Tropeçou no degrau...Já no seu quarto, caminhou até a janela *esticou o braço* para abrí-la , contemplou seu jardim, olhou para a casa da vizinha batendo freneticamente no peito e gritando como o Tarzan* acordando a vizinhança e assustando todos que pela rua passavam.*

(( Nem acredito que encontrei isso!!! O jogo de RPG do véião da Bruna!!! Eu que escrevi há 4 anos atrás! Do fundo do baú!!))

Um comentário:

Felipe Daidouji disse...

Deus do céu, será que existe tudo isso mesmo?