Cartas de Amor

Eu era aluno do Júlio de Castilhos e estudava à tarde (as manhãs, naquela época, estavam reservadas às turmas femininas). Um dia cheguei para a aula, coloquei os meus livros na carteira e ali estava, bem no fundo, um papel cuidadosamente dobrado. Era uma carta; dirigida não a mim, mas “ao colega da tarde”. E era uma carta de amor. De amor não; de paixão. Paixão fogosa, incontida, transbordante, a carta de uma alma sequiosa de afeto. À qual o jovem escritor não teve a menor dificuldade de responder.
Iniciou-se assim uma correspondência que se prolongou pelo ano letivo, não se inrompendo nem com as provas, nem com as férias de julho. À medida que o ano ia chegando a seu fim, os arroubos epistolares iam crescendo. Cheguei à conclusão de que precisava conhecer a minha misteriosa correspondente, aquela bela da manhã que me encantava com suas frases.
Mas… Seria realmente bela? A julgar pela letra, sim; eu até a imaginava como uma moça esguia, morena, de belos olhos verdes. Contudo, nem mesmo os grandes especialistas em grafologia estão imunes ao erro, e um engano poderia ser trágico. Além disto, eu já tinha uma namorada que não escrevia, mas era igualmente fogosa.
Optei, portanto, pelo mistério, pelo “nunca te vi, sempre te amei”. A minha história de amor continuou somente na fantasia. Que é o melhor lugar para as grandes histórias de amor.
SCLIAR, Moacyr. “Cartas de amor.”


((*tira o restinho de terra* Que achado heim?! Comentei com meu amigo esses dias da poesia que a irmã Anadir nos fez escrever no 1º ano do Ensino Médio,inclusive vou postar a música que me inspirou para a poesia. Hoje conversando com uma colega de sala da época lembrei da primeira redação que ela nos pediu inspirada neste texto. Ela gostou tanto da minha que falou para eu escrever várias, guardar e depois publicar um livro! Imaginem eu escritora?!))