domingo, 15 de fevereiro de 2009

ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL

(Fonte: Kaplan & Sadock – Compêndio de Psiquiatria dinâmica Ed. Artes Médicas)

I – ESTÁGIO ORAL
Definição:
Este é o estágio mais primitivo do desenvolvimento. As necessidades, percepções e modos de expressão do bebê estão originalmente concentrados na boca, lábios, língua e outros orgãos relacionados com a zona oral.
Descrição:
A zona oral mantém seu papel dominante na organização da psique através dos 18 primeiros meses de vida aproximadamente.
As sensações orais incluem : a sede, fome, estimulações táteis, prazerosas evocadas pelo mamilo ou seu substituto, sensações relacionadas com a deglutição e satisfação.
Os impulsos orais consistem em dois elementos separados: libidinal e agressivo.
Os estados de tensão oral levam à procura da gratificação oral, tipificada pela tranquilidade no final da alimentação. A trindade oral consiste no desejo de comer, dormir e alcançar a relaxação que ocorre no final da sucção, logo antes de começar a dormir. As necessidades libidinais (erotismo oral) são consideradas predominantemente nos primeiros estágios da fase oral; mais tarde mesclam-se com componentes agressivos (sadismo oral). A agressão oral pode manifestar-se na ação de morder, mastigar, cuspir ou chorar. Está vinculada aos desejos e fantasias primitivos de morder, devorar e destruir.
Objetivos:
Estabelecer uma dependência confiante nos objetos que proporcionam cuidado e apoio;
Estabelecer expressão confortável e gratificação das necessidades libidinais orais sem excessivo conflito ou ambivalência de desejos orais sádicos.
Traços Patológicos:
A gratificação ou privação oral em excesso podem resultar em fixações libidinais, que contribuem para os traços patológicos. Esses traços podem incluir excessivo otimismo, narcisismo, pessimismo (visto com frequência nos estados depressivos) e o hábito de reclamar.
Os caracteres orais são, com frequência, excessivamente dependentes e exigem que os demais os sirvam e olhem por eles. Tais pessoas querem ser alimentadas mas podem desistir excepcionalmente a fim de conseguir ser servidos em retribuição. Os caracteres orais muitas vezes são extremamente dependentes dos objetos para manter a auto-estima. A inveja e o ciúme estão frequentemente associados aos traços orais.
Traços de Caráter:
O êxito na resolução da fase oral proporciona uma base na estrutura do caráter para a capacidade de dar e receber sem excessiva dependência ou inveja; uma capacidade de confiar nos outros com um sentimento de segurança e com sentimentos de confiança e segurança próprios.

II – ESTÁGIO ANAL
Definição:
Este estágio do desenvolvimeto psicossexual é ativado pela maturação do controle neuromuscular sobre os esfíncteres, especialmente o esfíncter anal, permitindo, desse modo, maior controle voluntário sobre a retenção ou a expulsão das fezes.
Descrição:
Este período se estende aproximadamente de 1 a 3 anos de idade e é acentuado por visível intensificação de impulsos agressivos mesclados a componentes individuais em impulsos sádicos. A obtenção do controle voluntário do esfíncter está associado com crescente mudança da passividade para a atividade. Os conflitos a respeito do controle anal e a luta sobre a retenção ou expulsão das fezes no treinamento de toalete despertam crescente ambivalência, ao lado de um conflito sobre a separação-individuação e a independência. O erotismo anal refere-se ao prazer sexual no funcionamento anal, tanto na retenção das fezes como apresentando-as como um presente aos pais. O sadismo anal refere-se a manifestaçãoes de desejos agressivos ligados à descarga das fezes como armas poderosas e destrutivas. Esses desejos são muitas vezes manifestados nas fantasias das crianças, de bombardeio e explosões.
Objetivos:
O período anal é essencialmente um período de esforços por independência e separação da dependência e do controle dos pais. O objetivo do controle de esfíncter, sem controle excessivo (retenção fecal) ou perda de controle (sujando-se), está unido às tentativas de autonomia e independência da criança sem medo ou vergonha da perda de controle.
Traços Patológicos:
Traços de caráter mal adaptados, aparentemente inconsistentes, são derivados do erotismo anal e das defesas contra o mesmo. Regularidade, pertinácia, teimosia, voluntariedade, frugalidade e parcimônia são traços do caráter anal derivados de uma fixação nas funções anais. Quando as defesas contra os traços anais são menos eficazes, o caráter anal revela traços de elevada ambivalência, desordem, desafio, cólera e tendências sadomasoquistas. As características e defesas anais são vistas mais comumente nas neuroses obsessivo-compulsivas.
Traços de Caráter:
O êxito na resolução da fase anal proporciona a base para o desenvolvimento de autonomia pessoal, capacidade de independência e iniciativa pessoal, capacidade de auto determinação sem sentimento de vergonha ou falta de confiança, falta de ambivalência e capacidade de cooperação sem excessiva teimosia nem sentimento de depreciação própria ou derrota.

III – ESTÁGIO URETRAL
Definição:
Este estágio não foi explicitamente tratado por Freud, mas é pressentido como um estágio transicional entre os estágios anal e fálico.
Descrição:
As características da fase uretral estão muitas vezes agrupadas naquelas da fase fálica. O erotismo uretral, no entanto, refere-se ao prazer no urinar e ao prazer na retenção uretral análoga à retenção anal. Pontos semelhantes de execução e controle estão relacionados com o funcionamento uretral. Este também pode ser investido de qualidade sádica, frequentemente refletindo a persistência de impulsos sádico-anais. A perda do controle uretral, como na enurese, pode frequentemente ter um significado regressivo que reativa os conflitos anais.
Objetivos:
Não está claro em que extensão ou se os objetivos do funcionamento uretral diferem daqueles do período anal.
Traços Patológicos:
O traço uretral predominantemente é o de competição e ambição, provavelmente relacionado com compensação pela vergonha em virtude de perda do controle uretral.
Traços de Caráter:
A competência uretral proporciona um sentimento de orgulho e de adequação própria derivado do desempenho. A resolução de conflitos uretrais estabelece o estágio para o desenvolvimento da identidade de gênero e das identificações subsequentes.

IV – ESTÁGIO FÁLICO
Definição:
O estágio fálico do desenvolvimento psicossexual começa em algum momento do terceiro ano de vida e continua até o final do 5º ano mais ou menos.
Descrição:
A fase fálica se caracteriza por um foco primário de interesse sexual, estimulação e excitação na área genital. O pênis torna-se o orgão de principal interesse para as crianças de ambos os sexos e a falta de um pênis nas fêmeas é considerada evidência de castração. A fase fálica está associada com um incremento da masturbação genital acompanhado de fantasias predominantemente inconscientes de envolvimento sexual com o genitor do mesmo sexo. O temor da castração e a consequênte ansiedade de castração desperta junto com a culpa acerca da masturbação e dos desejos edípicos. Nessa fase o envolvimento e o conflito edípicos são estabelecidos e consolidados.
Objetivos:
O objetivo dessa fase é concentrar o interesse erótico na área e nas funções genitais. Essa concentração deita os fundamentos para a identidade de gênero e serve para integrar os resíduos de estágios anteriores numa orientação sexual predominantemente genital. O estabelecimento da situação edípica é essencial para o fomento de identificações subsequentes que servem de base para importantes e duradouras dimensões de organização do caráter.
Traços Patológicos:
A derivação de traços patológicos do envolvimento fálico-edípico é tão complexa e está sujeita a tal variedade de modificações que abrange quase todo o desenvolvimento neurótico. Os problemas, no entanto, centram-se na castração nos homens, e na inveja do pênis, nas mulheres. Outro importante foco de distorções evolutivas nesse período deriva-se dos padrões de identificação desenvolvidos sem a resolução do complexo de Édipo. A influência da ansiedade de castração e a inveja do pênis, as defesas contra ambas, e os padrões de identificação que surgem na fase fálica são os determinantes primários do caráter humano. Também incluem e integram os resíduos de estágios psicossexuais anteriores, de modo que as fixações ou conflitos derivados de quaisquer estágios precedentes podem contaminar e modificar a resolução edípica.
Traços de Caráter:
O estágio fálico proporciona os fundamentos para a formação de um senso de identidade sexual, de um sentimento de curiosidade sem embaraço, de iniciativa sem culpa, de um sentimento de domínio não apenas sobre pessoas e objetos do ambiente mas sobre os processos internos e os impulsos. A resolução do conflito edípico no final do período fálico desperta poderosos recursos internos para a regulação dos impulsos e sua orientação para fins construtivos. Essa fonte interna de regulação é o superego, que se embasa nas identificações originalmente derivadas das figuras parentais.

V – ESTÁGIO DE LACTÊNCIA
Definição:
Esse é o estágio de relativa tranquilidade ou inatividade do impulso sexual durante o período que se estende da resolução do complexo de Édipo até a puberdade (dos 5-6 anos até cerca de 11-13 anos).
Descrição:
A instituição do superego no final do período edípico e a posterior maturação das funções do ego permitem o controle dos impulsos instintuais num grau consideravelmente maior. Os interesses sexuais nesse período são considerados, em geral, aquietados. É um período de ligações primariamente homossexuais em ambos os sexos e de sublimação das energias libidinal e agressiva em aprendizagem energética e atividades lúdicas, com exploração do ambiente e aumento da habilidade para lidar com o mundo das coisas e pessoas ao redor. É um período de desenvolvimento de importantes habilidades. O relativo vigor dos elementos reguladores faz surgir padrões de comportamento de certa forma obsessivos e excessivamente controladores.
Objetivos:
O objetivo primário nesse período é a integração das identificações edípicas e a consolidação da identidade sexual e dos papéis sexuais. A relativa tranquilidade e controle dos impulsos instintuais permite o desenvolvimento dos aparelhos do ego e o domínio de habilidades. Elementos de identificação ulteriores podem ser adicionados aos componentes edípicos com base nos contatos com outras figuras importantes fora da família: professores, treinadores e outros adultos.
Traços Patológicos:
O perigo no período de latência pode surgir da falta ou excesso de controles internos. A falta de controle pode levar ao fracasso da criança na sublimação de suas energias no interesse da aprendizagem e do desenvolvimento de habilidades. O excesso pode levar ao fechamento prematuro do desenvolvimento da personalidade e à precoce elaboração de traços de caráter obsessivos.
Traços de Caráter:
São feitas importantes consolidações e acréscimos à identificação pós-edípica básica. É um período de integração e consolidação de realizações anteriores e do estabelecimento de padrões de funcionamento adaptativo decisivos. A criança pode desenvolver um senso de diligência e capacidade para o domínio de objetos e conceitos que lhe permitam funcionar autonomamente e com senso de iniciativa, sem correr o risco de fracasso ou derrota ou de um sentimento de inferioridade. Essas importantes realizações precisam ser mais integradas como base para uma vida adulta de satisfação no trabalho e no amor.

VI – ESTÁGIO GENITAL
Definição:
A fase genital ou adolescente do desenvolvimento psicossexual estende-se do começo da puberdade, aos 11-13 anos aproximadamente, até que o adolescente atinja a vida adulta.
Descrição:
A maturação fisiológica dos sistemas de funcionamento genital (sexual) e dos sistemas glandulares que acompanham leva a uma intensificação dos impulsos. Esta intensificação provoca uma regressão na organização da personalidade, fazendo reaparecer conflitos de estágios anteriores e oferecendo a oportunidade de resolver esses conflitos no contexto de alcançar maturidade sexual e identidade adulta.
Objetivos:
Os objetivos primários desse período são constituídos pela separação final da dependência e do vínculo parental e pelo estabelecimento de relações de objeto heterossexuais, não-incestuosas e amadurecidas. Dentro desses objetivos estão a obtenção de um sentimento de identidade individual amadurecido e a aceitação e integração de um conjunto de papéis e funções adultas que permitam novas integrações adaptativas dentro das expectativas sociais e dos valores culturais.
Traços Patológicos:
Os desvios patológicos devidos ao fracasso em resolver exitosamente esse estágio do desenvolvimento são múltiplos e complexos. As falhas podem proceder de todo o espectro dos resíduos psicossexuais, já que a tarefa evolutiva do período adolescente se faz num sentido de reabertura, reoperando e reintegrando todos esses aspectos do desenvolvimento. As resoluções anteriores mal sucedidas e as fixações nas várias fases ou aspectos do desenvolvimento psicossexual produzem imperfeições patológicas na personalidade adulta que surge. Um defeito mais específico provindo do fracasso na resolução de problemas da adolescência foi descrito por Erikson como "difusão da personalidade".
Traços de Caráter:
A resolução e a reintegração bem sucedidas de estágios psicossexuais anteriores, na adolescência, a fase genital plena estabelece o estágio normal para uma personalidade totalmente madura com capacidade para uma plena e gratificante potência genital e um senso de identidade auto-integrado e consistente. Tal pessoa alcançou satisfatória capacidade de realização própria e significativa participação nas áreas do trabalho e amor, bem como na aplicação produtiva e criativa de objetivos e valores gratificantes e importantes.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sakuraa!!
A riqueza de detalhes na sua explicação me surpreende, parece aqueles livros que vc só acha na faculdade^^

Anônimo disse...

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